“13 anos depois de casada é que decidi engravidar”. Ao ouvir essa frase de uma profissional pouco tempo atrás fiquei impressionada. E quando acrescentei um porquê à conversa, ela prontamente respondeu: “por conta do meu trabalho”.
Saí daquela rápida conversa intrigada. Quais motivos exatamente teria tido esta pessoa para levar tanto tempo para tomar esta decisão? Quais fatores específicos do trabalho teriam tanto impacto na vida de um casal? Que crenças teriam norteado essa decisão? Quais efeitos isso teria trazido ou não para ela e para o esposo? Que ambiente e que trabalho eram esse ao ponto de impactar tanto nessa decisão?
Quem me conhece sabe que sou apartidária quanto a ter ou não ter filhos. O importante é ser feliz. Porém, dentro do meu escopo atual de trabalho, o foco é dar luz para decisões como esta e outras relacionadas aos desafios impostos pela carreira e maternidade.
Ao me reencontrar com essa profissional, foi a vez dela de ficar impressionada ao me ouvir sobre os “13 anos”! Sem arrependimentos, ela relatou que tudo aconteceu como eles planejaram e no momento idealizado. Discorremos da boa sorte que também tiveram e do como estavam alinhados e organizados quando tudo aconteceu. Falamos sobre prós e contras dessa decisão e suas consequências na vida de muitas pessoas em diferentes situações e/ou condições.
Aqui, alguns exemplos para vocês que me acompanham, trabalham e pensam em ter filhos neste momento da carreira: O primeiro deles é a curva de fertilidade da mulher. Ter filhos após os 35 anos já nos coloca num ponto desfavorável desta curva. Hoje, apesar dos inúmeros recursos existentes para apoiar esse plano mais tardiamente, nem sempre funcionam. E o quanto cada mulher e cada casal está disposto a passar por isso até dar certo? E quais os custos para utilizar tais recursos? Quais as opções disponíveis x compatíveis? Até onde o casal está disposto a ir para gerir um filho?; Em segundo, os reais fatores do trabalho que impactam a maternidade. Existe alguma possibilidade de suas entregas sejam afetadas pela gestação? Você tem uma rotina de viagens que precisará ser ajustada? O ambiente em si oferece algum risco para mulheres grávidas? A sua volta gestores e colegas apoiam as profissionais gestantes ou não? Na empresa em que trabalha atualmente, a maternidade é vista como mais uma etapa da vida ou como um problema/doença? E, talvez o ponto mais importante e raramente abordado nesta fase, é o quanto a competência da mulher é afetada pela gestação (salvo gestações de risco que podem impedir a ida ao trabalho)? O quanto o plano pessoal de desenvolvimento de carreira será impactado com a chegada de 1 ou 2 filhos? O quanto líder e lideradas dão foco as conversas de desenvolvimento e retorno ao trabalho durante a gestação? Se a mulher está realizada no que faz, tudo tende a ocorrer dentro do esperado e o retorno à empresa parece ser óbvio. Mas, se não está , tais questões tendem a se multiplicar para ambos os lados. E assim, podemos seguir com muitos outros questionamentos envolvendo vida familiar, vida do casal, cuidados com a mulher e com o bebê.
A chave para essa e outras decisões de vida é o autoconhecimento, pois 13 anos parece tempo demais para se tomar uma boa decisão.
Grata por esta profissional que chegou até mim e compartilhou sua história para quem sabe inspirar tantas outras pessoas.
Com carinho
Sumaia Thomas Para Mães